domingo, 23 de maio de 2010

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Daniel Senos

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Homem de Ferro 2


Dono de um carisma formidável, Robert Downey Jr. volta a encarnar com perfeição a personalidade vaidosa e narcisista de Tony Stark. Logo no início, o diretor Jon Favreau se encarrega novamente de evidenciar essa índole, ao mostrar Stark discursando para uma numerosa platéia a respeito da grandiosidade dos seus feitos. Essa proposta de mostrar a satisfação do anti-herói em ostentar seu poder é interessante, já que representa um ponto original em relação à maioria de filmes de super-heróis. Se personagens como Bruce Wayne encaram a luta contra o crime como um fardo, chegando a esconder da sociedade a sua verdadeira identidade, Tony Stark faz questão de exibir os seus poderes e se orgulha do status adquirido com a armadura. E, diga-se de passagem, é divertidíssimo observar essa profunda paixão que a personagem sente pelo próprio ego.

Bem, a história do segundo filme começa exatamente aonde o primeiro termina. Acompanhamos o famoso discurso de Tony Stark, que termina com a confissão “I am the Iron Man”, ao passo que somos apresentados ao grande vilão da história, o russo Ivan Vanko, interpretado por Mickey Rourke. Esse, embora represente o principal adversário do protagonista, não será o único desafio a ser enfrentado. Isso porque o governo norte-americano exige que Stark compartilhe com as forças armadas a tecnologia necessária para a fabricação do traje de ferro. Para completar, o núcleo de energia responsável por manter o protagonista vivo, paradoxalmente, também está provocando sua morte.

O diretor Jon Favreau consegue realizar um filme com notórios acertos. Em primeiro lugar, são ótimas as investidas do cineasta em tornar crível a figura do Homem de Ferro. Para alcançar tal objetivo, Favreau emprega recursos como estampar a imagem da personagem em capas de revistas famosas e mostrar conhecidos canais de televisão exibindo reportagens sobre o herói. Dessa forma, ficamos com a impressão de que no mundo atual, marcado por um constante desenvolvimento tecnológico, seria perfeitamente possível a existência de uma armadura que possibilitasse ao seu controlador poderes fantásticos. Além disso, o filme é eficiente nas suas sequências de ação, que contam com o apoio de sofisticados efeitos visuais, fundamentais para a elegância da obra.

Como não estamos diante de uma obra de arte, “Homem de Ferro 2″ contém sua parcela de problemas. O excesso de subtramas e de novos personagens, por exemplo, se revela uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo em que proporciona situações interessantes, acaba impedindo o aprofundamento das histórias. Em função disso, o vilão acaba sendo mal desenvolvido, tornando-se uma figura unidimensional. Outro problema, que por sinal também era notado no primeiro filme, está na condução das cenas em que Stark aperfeiçoa sua armadura. Embora necessárias, elas se tornam cansativas dentro do filme. Porém, o maior equívoco está no momento em que o protagonista, ao rever vídeos do pai, se emociona com uma confissão emotiva do seu genitor. Um clichê bastante previsível.

No entanto, tais falhas não comprometem o resultado positivo e seria injusto não classificar “Homem de Ferro 2″ como uma produção acima da média. As pessoas que forem ao cinema esperando se desligar do mundo por 120 minutos devem gostar da continuação. Afinal de contas, é sempre legal quando um filme consegue reunir entretenimento, ótimos atores e uma trilha sonora recheada de músicas da banda AC/DC. Melhor ainda quando tudo isso é liderado pelo talento de um dos melhores intérpretes do cinema americano: o grande Tony Stark, vulgarmente conhecido como Robert Downey Jr.

Nota: 7,5

terça-feira, 4 de maio de 2010

Nine




O grande clássico do Fellini, ‘’8½’’ é, sem dúvida alguma uma das obras máximas do cinema italiano. Com um roteiro que mistura devaneios e realidades, o filme nos conta a história de Guido, um atormentado e egoísta diretor que sofre com uma súbita falta de criatividade. Na obra, são expostos temas como a igreja e o processo de criação artística, com um toque bastante auto-biográfico. Ainda temos a destruição das barreiras que separam as manifestações oníricas do real, simbolismos fantásticos, atuações inspiradas e muito mais.

Uma vez que esse texto não possui intenção de abordar o filme do Fellini, essa breve introdução foi feita para dizer o que ‘’Nine’’ conseguiu arruinar. O único aspecto que este compartilha com o clássico é a excelente história, que é destruída por cenas musicais esteticamente bonitas, mas sem inspiração nenhuma e que não conseguem  prender o telespectador em suas seqüências.

A história fala sobre Guido, um cineasta que passa por um período artístico ruim, e está sendo pressionado para rodar um filme, o qual ainda não possui um roteiro. Sua equipe tenta trabalhar, tentando captar as idéias embaralhadas do conturbado artista mas este se encontra confuso e já não sabe pra onde correr. Como se dá a entender, o diretor já tem um histórico de obras bem conceituadas no cenário italiano, embora a história retrate especificamente esse período ruim de sua carreira. Mulherengo, não consegue ser fiel a sua esposa, Luisa (Marion Cottilard) e a monogamia parece ser algo distante de seu julgamento moral.  Possui até uma amante oficial, a sensual Carla Albanese (Penélope Cruz), fora as outras que aparecerão, como Stephanie (Kate Hudson) e Claudia (Nicole Kidman), para a tristeza de sua esposa.

Acontece que ‘’Nine’’ é um musical, e como um filme do gênero, as músicas devem ser no mínimo cativantes para fazer jus a sua denominação. Infelizmente é algo que não é visto na obra em questão.  Onde está a energia e potência de ‘’Chicago’’? As músicas são fraquíssimas e deixam a desejar, e nem mesmo um elenco escolhido a dedo pode salvar o filme da derrocada inevitável.

‘’Nine’’ possui um elenco forte, com beldades como Nicole Kidman (que, por sinal, não brilha quase nada no filme), Penélope Cruz esbanjando sensualidade em mais uma das músicas sem graça, e por fim, Kate Hudson e Marion Cottilard, que são as únicas que realmente chamam a atenção no filme. A primeira pelas melhores cenas musicais, e a outra pela atuação em si, comovente, singela e sofrida.

Daniel Day-Lewis merece atenção especial, pois mais uma vez está bem caracterizado e muito bem no papel proposto, mostrando mais uma vez que é um ator bastante completo e competente (embora não seja um dos melhores cantores). O seu papel como Guido está ótimo, e cumpre o papel de passar para o telespectador a ansiedade e tormento do perturbado diretor, e talvez o ator seja um dos poucos pontos positivos dessa obra. 

Entendo que Rob Marshall tentou fazer uma homenagem ao grande Fellini, e provavelmente todos esperávamos algo do nível de ‘’Chicago’’ ou melhor. Mesmo assim, ‘’Nine’’ foi uma grave pisada na bola, e o diretor entregou um musical pobre em músicas, com um elenco belíssimo e sem energia nas cenas musicais (pouco originais). Assim como Guido e seu não-filme, cabe a Rob Marshall seguir em frente, todo artista tem uma fase ruim. E deixar Fellini se debatendo de raiva lá embaixo.

Nota: 4



sábado, 1 de maio de 2010

Alice no País das Maravilhas


O currículo do cineasta Tim Burton é recheado de produções com inclinações ao sombrio e ao excêntrico, como, por exemplo, Edward Mãos de Tesoura, Sweeney Todd e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Sendo assim, é compreensível a escolha do diretor em adaptar o clássico literário de Lewis Carroll, já que o enredo é passado num mundo fantasioso, cheio de criaturas fantásticas.

Para quem não conhece a trama, ela é focada em Alice, uma jovem que durante toda a vida sofreu com um sonho bizarro, em que figuras como a de um gato sorridente e a de um chapeleiro louco eram constantes. Aos 19 anos, durante uma festa de casamento, a moça nota um coelho com roupas correndo pelo jardim e resolve segui-lo. Com isso, a jovem será guiada até o País das Maravilhas, que se revelará o universo onde estão situados os seus estranhos sonhos.

Embora a premissa que servirá de ponto de partida para a história seja interessante, a adaptação para o cinema deixou muito a desejar. Tim Burton emprega um tom excessivamente infantil, o que é um erro, visto que a história é considerada um clássico da literatura universal, algo que deveria agradar a todas idades. O desenrolar apressado da trama e o raso aprofundamento das personagens dão ao filme um caráter medíocre. Alinhado a esses fatores, a direção de Burton parece focar tanto na elaboração do mundo fantástico, que se esquece de dar dinamismo à narrativa. Sendo assim, as cenas não empolgam em nenhum momento e a obra falha no quesito entretenimento.

Nem mesmo o elenco de peso é suficiente para salvar a película da mesmice. Em uma equipe de grandes nomes, não temos nenhum destaque. O astro Johnny Depp está pouco inspirado como o Chapeleiro Louco. Os fãs do ator, acostumados com o carisma e a irreverência que ele imprime às suas personagens, podem se desapontar um pouco com a sua performance. A impressão que fica é que o tempo do Chapeleiro em cena se deve muito mais à fama do seu intérprete do que a importância da personagem na trama.

Como já foi dito, percebe-se uma grande preocupação do diretor quanto ao visual. Quanto a isso, devem ser feitas algumas considerações. Há uns meses atrás, o diretor de Avatar, James Cameron, deu uma declaração, expondo a sua posição contrária em relação à decisão dos estúdios de converter filmes, originalmente realizados em 2D, para o 3D. Sua justificativa é que essa prática daria ao filme um aspecto de produção barata e mal feita. Levando em consideração que Cameron revolucionou o cinema com a tecnologia empregada em Avatar, a sua opinião deveria ser mais do que considerada.

Infelizmente a ganância dos estúdios em maximizar os lucros através dessa conversão parece ter falado mais alto e "Alice no País das Maravilhas" foi reconfigurado para o formato tridimensional. A única certeza sobre o 3D de Alice é que ele foi pensado muito mais como uma forma de atrair pessoas ao cinema do que como algo necessário à narrativa. Na verdade, o fator 3D é notado em pouquíssimas cenas do filme e não justifica o ingresso mais caro.

Em virtude do sucesso de público que teve nos EUA e da equipe consagrada envolvida, as expectativas em torno do filme no Brasil foram bem grandes. Infelizmente o novo trabalho de Tim Burton, que poderia ter se tornado uma adaptação à altura do prestígio da obra de Carroll, deve frustrar grande parte dos fãs do diretor, assim como deve desagradar os apreciadores do livro. No final das contas, “Alice” é mais uma produção destinada ao público infantil, mais ou menos como foram as adaptações de "Crônicas de Nárnia" e "A Bússola de Ouro".

Nota: 4

OBS: Embora receba o nome "Alice no País das Maravilhas", parece que a história não é uma adaptação integral do livro de Carroll, uma vez que é focada num retorno da protagonista ao País das Maravilhas, anos depois da sua primeira viagem à esse universo.

Como Treinar o Seu Dragão


Embora seja o estúdio responsável pela franquia de enorme sucesso "Shrek", a Dreamworks vem exercendo um papel secundário no mundo das animações. Isso porque a Pixar, pioneira na realização de animações computadorizadas, vive uma fase de glórias e tem provado ser um dos estúdios mais competentes da indústria americana. Liderada por grandes mestres da animação como Andrew Stanton (Wall-E), John Lasseter (Toy Story) e Brad Bird (Os Incríveis), a Pixar consegue manter um alto nível de qualidade, lançando todos os anos sucessos de público e crítica. Embora essa conjuntura seja um fato, a Dreamworks conseguiu com seu "Como Treinar o Seu Dragão" mostrar ao mundo que existe vida inteligente fora da Pixar.

Ambientado numa aldeia de guerreiros viking, que sofre constantemente com o ataque de dragões, a história é centrada em Soluço, um jovem franzino e desengonçado, que possui um sonho aparentemente impossível: tornar-se um guerreiro. Sempre disposto a ajudar sua aldeia, lutando contra os dragões, o jovem é quase sempre impedido pelos mais velhos de realizar tal tarefa, devido à sua falta de aptidão física. Volta e meia, o garoto é repreendido pelo pai após desobedecer ordens e ir lutar no campo de batalha. No entanto, a ânsia do rapaz de virar um guerreiro é abalada quando ele encontra um dragão ferido na floresta. A partir daí, Soluço reavaliará a sua concepção sobre tais criaturas.

O filme conta com todos os ingredientes necessários para uma boa animação: personagens cativantes, certa dose de ação, passagens emocionantes e um bonito visual, realçado pelo bom uso do 3D. Além disso, a história é bastante eficiente ao criar uma mitologia referente aos dragões, em que cada uma dessas criaturas é dotada de características próprias. É muito interessante mergulhar nesse universo e descobrir as particularidades de cada dragão.

Como já foi dito, o visual é um importante elemento nessa animação. O seu emprego é particularmente bem sucedido no momento em que a câmera acompanha o vôo do dragão do título pelas redondezas da aldeia de Soluço. Nessa cena, o espectador presencia com uma vivacidade impressionante a natureza do local. Outro exemplo de espetáculo visual é percebido nas cenas de treinamento dos aspirantes à guerreiro, que acontece numa espécie de Coliseu. Toda essa beleza é percebida graças à rica direção de arte e à boa utilização da técnica do 3D.

Enfim, após um período marcado por uma certa supremacia da Pixar, a Dreamworks ganha um sopro de vida com a sua nova animação. Temos que torcer para que os futuros lançamentos do estúdio sejam tão bem feitos e originais quanto “Como Treinar o Seu Dragão”. Caso isso aconteça, a Pixar ganhará uma forte concorrente em solo americano, no que tange à qualidade das animações. E quem sai ganhando é o público, que terá a chance de conferir cada vez mais obras de qualidade no gênero.

Nota: 8