domingo, 23 de maio de 2010

Pessoal, o Boteco está com novo endereço! Agora estamos no http://botecodocinema.wordpress.com
Obrigado pela atenção e carinho e continuem a nos visitar!

Daniel Senos

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Homem de Ferro 2


Dono de um carisma formidável, Robert Downey Jr. volta a encarnar com perfeição a personalidade vaidosa e narcisista de Tony Stark. Logo no início, o diretor Jon Favreau se encarrega novamente de evidenciar essa índole, ao mostrar Stark discursando para uma numerosa platéia a respeito da grandiosidade dos seus feitos. Essa proposta de mostrar a satisfação do anti-herói em ostentar seu poder é interessante, já que representa um ponto original em relação à maioria de filmes de super-heróis. Se personagens como Bruce Wayne encaram a luta contra o crime como um fardo, chegando a esconder da sociedade a sua verdadeira identidade, Tony Stark faz questão de exibir os seus poderes e se orgulha do status adquirido com a armadura. E, diga-se de passagem, é divertidíssimo observar essa profunda paixão que a personagem sente pelo próprio ego.

Bem, a história do segundo filme começa exatamente aonde o primeiro termina. Acompanhamos o famoso discurso de Tony Stark, que termina com a confissão “I am the Iron Man”, ao passo que somos apresentados ao grande vilão da história, o russo Ivan Vanko, interpretado por Mickey Rourke. Esse, embora represente o principal adversário do protagonista, não será o único desafio a ser enfrentado. Isso porque o governo norte-americano exige que Stark compartilhe com as forças armadas a tecnologia necessária para a fabricação do traje de ferro. Para completar, o núcleo de energia responsável por manter o protagonista vivo, paradoxalmente, também está provocando sua morte.

O diretor Jon Favreau consegue realizar um filme com notórios acertos. Em primeiro lugar, são ótimas as investidas do cineasta em tornar crível a figura do Homem de Ferro. Para alcançar tal objetivo, Favreau emprega recursos como estampar a imagem da personagem em capas de revistas famosas e mostrar conhecidos canais de televisão exibindo reportagens sobre o herói. Dessa forma, ficamos com a impressão de que no mundo atual, marcado por um constante desenvolvimento tecnológico, seria perfeitamente possível a existência de uma armadura que possibilitasse ao seu controlador poderes fantásticos. Além disso, o filme é eficiente nas suas sequências de ação, que contam com o apoio de sofisticados efeitos visuais, fundamentais para a elegância da obra.

Como não estamos diante de uma obra de arte, “Homem de Ferro 2″ contém sua parcela de problemas. O excesso de subtramas e de novos personagens, por exemplo, se revela uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo em que proporciona situações interessantes, acaba impedindo o aprofundamento das histórias. Em função disso, o vilão acaba sendo mal desenvolvido, tornando-se uma figura unidimensional. Outro problema, que por sinal também era notado no primeiro filme, está na condução das cenas em que Stark aperfeiçoa sua armadura. Embora necessárias, elas se tornam cansativas dentro do filme. Porém, o maior equívoco está no momento em que o protagonista, ao rever vídeos do pai, se emociona com uma confissão emotiva do seu genitor. Um clichê bastante previsível.

No entanto, tais falhas não comprometem o resultado positivo e seria injusto não classificar “Homem de Ferro 2″ como uma produção acima da média. As pessoas que forem ao cinema esperando se desligar do mundo por 120 minutos devem gostar da continuação. Afinal de contas, é sempre legal quando um filme consegue reunir entretenimento, ótimos atores e uma trilha sonora recheada de músicas da banda AC/DC. Melhor ainda quando tudo isso é liderado pelo talento de um dos melhores intérpretes do cinema americano: o grande Tony Stark, vulgarmente conhecido como Robert Downey Jr.

Nota: 7,5

terça-feira, 4 de maio de 2010

Nine




O grande clássico do Fellini, ‘’8½’’ é, sem dúvida alguma uma das obras máximas do cinema italiano. Com um roteiro que mistura devaneios e realidades, o filme nos conta a história de Guido, um atormentado e egoísta diretor que sofre com uma súbita falta de criatividade. Na obra, são expostos temas como a igreja e o processo de criação artística, com um toque bastante auto-biográfico. Ainda temos a destruição das barreiras que separam as manifestações oníricas do real, simbolismos fantásticos, atuações inspiradas e muito mais.

Uma vez que esse texto não possui intenção de abordar o filme do Fellini, essa breve introdução foi feita para dizer o que ‘’Nine’’ conseguiu arruinar. O único aspecto que este compartilha com o clássico é a excelente história, que é destruída por cenas musicais esteticamente bonitas, mas sem inspiração nenhuma e que não conseguem  prender o telespectador em suas seqüências.

A história fala sobre Guido, um cineasta que passa por um período artístico ruim, e está sendo pressionado para rodar um filme, o qual ainda não possui um roteiro. Sua equipe tenta trabalhar, tentando captar as idéias embaralhadas do conturbado artista mas este se encontra confuso e já não sabe pra onde correr. Como se dá a entender, o diretor já tem um histórico de obras bem conceituadas no cenário italiano, embora a história retrate especificamente esse período ruim de sua carreira. Mulherengo, não consegue ser fiel a sua esposa, Luisa (Marion Cottilard) e a monogamia parece ser algo distante de seu julgamento moral.  Possui até uma amante oficial, a sensual Carla Albanese (Penélope Cruz), fora as outras que aparecerão, como Stephanie (Kate Hudson) e Claudia (Nicole Kidman), para a tristeza de sua esposa.

Acontece que ‘’Nine’’ é um musical, e como um filme do gênero, as músicas devem ser no mínimo cativantes para fazer jus a sua denominação. Infelizmente é algo que não é visto na obra em questão.  Onde está a energia e potência de ‘’Chicago’’? As músicas são fraquíssimas e deixam a desejar, e nem mesmo um elenco escolhido a dedo pode salvar o filme da derrocada inevitável.

‘’Nine’’ possui um elenco forte, com beldades como Nicole Kidman (que, por sinal, não brilha quase nada no filme), Penélope Cruz esbanjando sensualidade em mais uma das músicas sem graça, e por fim, Kate Hudson e Marion Cottilard, que são as únicas que realmente chamam a atenção no filme. A primeira pelas melhores cenas musicais, e a outra pela atuação em si, comovente, singela e sofrida.

Daniel Day-Lewis merece atenção especial, pois mais uma vez está bem caracterizado e muito bem no papel proposto, mostrando mais uma vez que é um ator bastante completo e competente (embora não seja um dos melhores cantores). O seu papel como Guido está ótimo, e cumpre o papel de passar para o telespectador a ansiedade e tormento do perturbado diretor, e talvez o ator seja um dos poucos pontos positivos dessa obra. 

Entendo que Rob Marshall tentou fazer uma homenagem ao grande Fellini, e provavelmente todos esperávamos algo do nível de ‘’Chicago’’ ou melhor. Mesmo assim, ‘’Nine’’ foi uma grave pisada na bola, e o diretor entregou um musical pobre em músicas, com um elenco belíssimo e sem energia nas cenas musicais (pouco originais). Assim como Guido e seu não-filme, cabe a Rob Marshall seguir em frente, todo artista tem uma fase ruim. E deixar Fellini se debatendo de raiva lá embaixo.

Nota: 4



sábado, 1 de maio de 2010

Alice no País das Maravilhas


O currículo do cineasta Tim Burton é recheado de produções com inclinações ao sombrio e ao excêntrico, como, por exemplo, Edward Mãos de Tesoura, Sweeney Todd e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Sendo assim, é compreensível a escolha do diretor em adaptar o clássico literário de Lewis Carroll, já que o enredo é passado num mundo fantasioso, cheio de criaturas fantásticas.

Para quem não conhece a trama, ela é focada em Alice, uma jovem que durante toda a vida sofreu com um sonho bizarro, em que figuras como a de um gato sorridente e a de um chapeleiro louco eram constantes. Aos 19 anos, durante uma festa de casamento, a moça nota um coelho com roupas correndo pelo jardim e resolve segui-lo. Com isso, a jovem será guiada até o País das Maravilhas, que se revelará o universo onde estão situados os seus estranhos sonhos.

Embora a premissa que servirá de ponto de partida para a história seja interessante, a adaptação para o cinema deixou muito a desejar. Tim Burton emprega um tom excessivamente infantil, o que é um erro, visto que a história é considerada um clássico da literatura universal, algo que deveria agradar a todas idades. O desenrolar apressado da trama e o raso aprofundamento das personagens dão ao filme um caráter medíocre. Alinhado a esses fatores, a direção de Burton parece focar tanto na elaboração do mundo fantástico, que se esquece de dar dinamismo à narrativa. Sendo assim, as cenas não empolgam em nenhum momento e a obra falha no quesito entretenimento.

Nem mesmo o elenco de peso é suficiente para salvar a película da mesmice. Em uma equipe de grandes nomes, não temos nenhum destaque. O astro Johnny Depp está pouco inspirado como o Chapeleiro Louco. Os fãs do ator, acostumados com o carisma e a irreverência que ele imprime às suas personagens, podem se desapontar um pouco com a sua performance. A impressão que fica é que o tempo do Chapeleiro em cena se deve muito mais à fama do seu intérprete do que a importância da personagem na trama.

Como já foi dito, percebe-se uma grande preocupação do diretor quanto ao visual. Quanto a isso, devem ser feitas algumas considerações. Há uns meses atrás, o diretor de Avatar, James Cameron, deu uma declaração, expondo a sua posição contrária em relação à decisão dos estúdios de converter filmes, originalmente realizados em 2D, para o 3D. Sua justificativa é que essa prática daria ao filme um aspecto de produção barata e mal feita. Levando em consideração que Cameron revolucionou o cinema com a tecnologia empregada em Avatar, a sua opinião deveria ser mais do que considerada.

Infelizmente a ganância dos estúdios em maximizar os lucros através dessa conversão parece ter falado mais alto e "Alice no País das Maravilhas" foi reconfigurado para o formato tridimensional. A única certeza sobre o 3D de Alice é que ele foi pensado muito mais como uma forma de atrair pessoas ao cinema do que como algo necessário à narrativa. Na verdade, o fator 3D é notado em pouquíssimas cenas do filme e não justifica o ingresso mais caro.

Em virtude do sucesso de público que teve nos EUA e da equipe consagrada envolvida, as expectativas em torno do filme no Brasil foram bem grandes. Infelizmente o novo trabalho de Tim Burton, que poderia ter se tornado uma adaptação à altura do prestígio da obra de Carroll, deve frustrar grande parte dos fãs do diretor, assim como deve desagradar os apreciadores do livro. No final das contas, “Alice” é mais uma produção destinada ao público infantil, mais ou menos como foram as adaptações de "Crônicas de Nárnia" e "A Bússola de Ouro".

Nota: 4

OBS: Embora receba o nome "Alice no País das Maravilhas", parece que a história não é uma adaptação integral do livro de Carroll, uma vez que é focada num retorno da protagonista ao País das Maravilhas, anos depois da sua primeira viagem à esse universo.

Como Treinar o Seu Dragão


Embora seja o estúdio responsável pela franquia de enorme sucesso "Shrek", a Dreamworks vem exercendo um papel secundário no mundo das animações. Isso porque a Pixar, pioneira na realização de animações computadorizadas, vive uma fase de glórias e tem provado ser um dos estúdios mais competentes da indústria americana. Liderada por grandes mestres da animação como Andrew Stanton (Wall-E), John Lasseter (Toy Story) e Brad Bird (Os Incríveis), a Pixar consegue manter um alto nível de qualidade, lançando todos os anos sucessos de público e crítica. Embora essa conjuntura seja um fato, a Dreamworks conseguiu com seu "Como Treinar o Seu Dragão" mostrar ao mundo que existe vida inteligente fora da Pixar.

Ambientado numa aldeia de guerreiros viking, que sofre constantemente com o ataque de dragões, a história é centrada em Soluço, um jovem franzino e desengonçado, que possui um sonho aparentemente impossível: tornar-se um guerreiro. Sempre disposto a ajudar sua aldeia, lutando contra os dragões, o jovem é quase sempre impedido pelos mais velhos de realizar tal tarefa, devido à sua falta de aptidão física. Volta e meia, o garoto é repreendido pelo pai após desobedecer ordens e ir lutar no campo de batalha. No entanto, a ânsia do rapaz de virar um guerreiro é abalada quando ele encontra um dragão ferido na floresta. A partir daí, Soluço reavaliará a sua concepção sobre tais criaturas.

O filme conta com todos os ingredientes necessários para uma boa animação: personagens cativantes, certa dose de ação, passagens emocionantes e um bonito visual, realçado pelo bom uso do 3D. Além disso, a história é bastante eficiente ao criar uma mitologia referente aos dragões, em que cada uma dessas criaturas é dotada de características próprias. É muito interessante mergulhar nesse universo e descobrir as particularidades de cada dragão.

Como já foi dito, o visual é um importante elemento nessa animação. O seu emprego é particularmente bem sucedido no momento em que a câmera acompanha o vôo do dragão do título pelas redondezas da aldeia de Soluço. Nessa cena, o espectador presencia com uma vivacidade impressionante a natureza do local. Outro exemplo de espetáculo visual é percebido nas cenas de treinamento dos aspirantes à guerreiro, que acontece numa espécie de Coliseu. Toda essa beleza é percebida graças à rica direção de arte e à boa utilização da técnica do 3D.

Enfim, após um período marcado por uma certa supremacia da Pixar, a Dreamworks ganha um sopro de vida com a sua nova animação. Temos que torcer para que os futuros lançamentos do estúdio sejam tão bem feitos e originais quanto “Como Treinar o Seu Dragão”. Caso isso aconteça, a Pixar ganhará uma forte concorrente em solo americano, no que tange à qualidade das animações. E quem sai ganhando é o público, que terá a chance de conferir cada vez mais obras de qualidade no gênero.

Nota: 8

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Chico Xavier



    Fui ao cinema com a cabeça lotada de comentários e críticas ruins em relação ao novo trabalho de Daniel Filho. Particularmente, não apreciei nenhum trabalho do diretor até agora, tanto pela sua mão pesada em relação à direção de atores como pela sua limitação no papel de diretor. Filmes como ‘’A Partilha’’, ‘’Se Eu Fosse Você’’ e ‘’Primo Basílio’’ não me conquistaram, os quais considero medíocres. Porém, fui surpreendido com esse ‘’Chico Xavier’’, tanto pelas belíssimas atuações (basicamente um dos pilares que sustentam o filme) como a forma em que a trajetória da personagem espírita é tratada.

    Antes de tudo, a intenção nesse texto é analisar a obra no que tange a sétima arte, logo sem preocupação nenhuma com crenças e religiões. Claro que o filme é totalmente mergulhado na doutrina espírita kardecista, mas seria um erro criticá-lo de acordo com o meu posicionamento religioso (sou ateu e respeito o espiritismo, doutrina com a qual tenho bastante contato por causa de meus parentes).

    Tendo esclarecido essa questão, vamos ao que interessa.  O filme trata do médium Chico Xavier, uma figura polêmica e importante dentro da doutrina espírita e que comoveu o Brasil durante o período em viveu. Psicografava textos de espíritos, os quais sussurravam em seu ouvido o que deviam escrever, e desse modo escreveu mais de 400 livros, inclusive psicografou autores famosos, como Olavo Bilac e Augusto dos Anjos. Era visto como uma pessoa muito prestativa, sempre ajudava aos que lhe solicitavam ajuda.

    O cineasta opta por começar o filme em um programa de perguntas que Chico Xavier participou, justamente para permitir a possibilidades de contas a história em formato de flashbacks. Temos a personagem de Tony Ramos bebendo em excesso logo nas primeiras cenas, o que demonstra certa falta de sutileza já característica do diretor, totalmente desnecessária.  Esse traço citado marcará algumas passagens do filme, o que só traz conseqüências negativas.

    Logo somos transportados para a infância de Chico Xavier (agora interpretado por Matheus Costa), que é obrigado por Rita (uma bastante caricata Giulia Gam) a lamber a ferida de seu irmão, em meio a rezas da beata. O garoto é discriminado por ser o esquisito, estranho, pois diz ouvir vozes e ver coisas que ninguém ouve e vê, respectivamente. Nisso, a criança procura consolo nos braços da sua mãe, já falecida (Letícia Sabatella em uma atuação artificial surpreendente por tratar-se de uma atriz tão talentosa) e que se manifesta como um espírito. Esse primeiro momento é um tanto abaixo da média, pois as atuações soam tão performáticas que não passam credibilidade que o público precisa.

    Ainda na infância Chico Xavier dialoga com um padre católico, Scarzelo (Pedro Paulo Rangel numa atuação divertida e de fácil de digestão), procurando salvação por meio de orações intermináveis e pagamento de sacrifícios (como carregar um pesado tijolo na cabeça durante uma procissão). Durante esse período, a personagem é vista como um esquisito e é bastante discriminado pelos seus colegas, o que é bem retratado no filme.

    Mais tarde, Chico (Ângelo Antônio, muitíssimo bem em sua atuação) adota uma postura mais madura e, ao invés de tentar se livrar desse atributo diferente em si procura a todo custo entendê-lo.  Nesse período temos mais uma das presenças de mão pesada do diretor, na sequência em que o pai de Chico (Luís Mello) leva-o a um bordel para que o filho perca a virgindade. Momentos depois de Chico Xavier entrar no bordel e interagir com uma das mulheres, todos estão rezando, ajoelhados no chão, enquanto a personagem de Paulo bebe com outra mulher e a cena se desenrola com uma comicidade desnecessária.

    É nesse período de juventude que Chico começa a compreender o seu dom, a escrever as famosas psicografias e publicar livros. Atende muitas pessoas em casa para entregar cartas de parentes e entes queridos que já haviam partido e ajudando a população no que podia. Aqui temos uma visão um tanto mitificada de Chico Xavier, pois este parece imune a qualquer outro sentimento humano, sempre sendo mostrado como calmo e sereno, quando a inserção de uma cena de um Chico irritado o tornaria bem mais humano.

    Existe uma sequência totalmente infeliz, que é quando  Chico (mais velho, interpretado por Nelson Xavier) está viajando de avião e que enfrenta uma turbulência.  Chico fica apavorado e Emmanuel, o espírito que é o seu guia espiritual (André Dias) dialoga com a personagem principal, numa divertida cena de humor. Até que, quando a turbulência passa, a piada é cruelmente destruída por um coro de ‘’amém’’ vindo do avião, estragando todo o humor da cena, reafirmando a falta de sutileza do diretor.

    Mais tarde ainda teremos a subtrama de Orlando (Tony Ramos) e Glória (Cristiani Torloni) que provavelmente é a parte mais comovente do filme. Se bem que, outro pilar que sustenta o filme é o poder que ele tem de mexer com o público, cumprindo o papel de levar um pouquinho da trajetória de caridade e doação de Chico Xavier a cada telespectador, um fator incrível para a obra. As atuações de Tony Ramos e de Cristiani Torloni são ótimas e só potencializam a comoção causada nas cenas finais do filme.

    Ao final, Daniel Filho acerta ao colocar filmagens reais de Chico Xavier no programa de perguntas ao lado dos créditos, o que adiciona ao filme uma dose extra de realismo. O que decepciona na obra é que ela poderia ter sido muito melhor se não fosse a extrema falta de sutileza do ator e uma direção de atores mais competente, o que fez muita falta principalmente no início do filme, que é precário. No mais, o filme consegue atingir em cheio o grande público, levando uma bonita mensagem dessa personagem polêmica que fez um trabalho de caridade admirável. Impossível ir a uma sessão sem encontrar alguém se emocionando (eu saí de uma sessão onde um homem estava aos prantos, sendo acolhido pela namorada).

Nota: 5

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tudo Pode Dar Certo


Tornou-se comum nos filmes de Woody Allen, a presença de um protagonista, cuja personalidade é marcada por ironia, neurose, hipocondria, inteligência aguçada e uma forte visão crítica em relação ao mundo. Para muitos, essa persona seria uma espécie de alter ego do diretor. Tal idéia é fortalecida pelo fato de que é, normalmente, o próprio Woody Allen que interpreta tais papéis. Porém no seu novo trabalho "Whatever Works" (Tudo Pode Dar Certo), diferentemente dos clássicos "Crimes e Pecados" e "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", o cineasta delega à outro ator a responsabilidade de assumir a persona que tornou-se a marca registrada dos seus filmes. O intérprete escolhido foi o comediante Larry David, da série "Curb your Enthusiasm".

Nesse filme, o alter ego do diretor recebe o nome de Boris Yellnikoff, um intelectual da terceira idade, indicado ao Prêmio Nobel da Física e dono de um temperamento marcado por um forte mau humor. Sua vida divide-se entre aulas de xadrez para crianças e conversas de cunho existencialista e filosófico com alguns de seus vizinhos mais velhos. Entretanto, sua vida metódica sofrerá uma grande transformação, quando Boris resolve abrigar em sua casa uma jovem moça, sem dinheiro, ingênua e, sobretudo, dotada de um intelecto inferior ao seu. Se na teoria, essa situação tinha tudo pra dar errado, a realidade se mostrou surpreendente, já que a relação acaba dando certo. A jovem se encanta pelo jeito sério, rabugento e crítico de Boris e acaba se apaixonando por ele. Esse é o ponto de partida de uma história, fortemente marcada pelo humor e pela ótima qualidade.

No melhor estilo Woody Allen de se fazer cinema, "Whatever Works" faz uma viagem pela brilhante mente do protagonista, que expõe suas ácidas visões de mundo, de forma bastante humorada. Sempre que uma nova personagem surge em cena, queremos saber de imediato o que Boris dirá sobre tal figura. E são muitos os coadjuvantes que engrandecem o filme, representando um prato cheio para que o protagonista possa apresentar suas opiniões. Paralelamente, é muito interessante repararmos na fluidez e na naturalidade, com as quais se desenvolve a relação de Boris com a moça. Relacionamento esse que, embora marcado por fortes diferenças de gosto e de idéias, funciona muitíssimo bem.

Outro elemento bastante interessante da narrativa é a interação estabelecida entre o protagonista e o público. Em vários momentos, Boris se vira para o platéia, consciente de que, por trás da tela, pessoas estão sentadas o assistindo. Embora já tenha sido empregado em outros filmes do diretor, aqui tal recurso é utilizado com mais frequência e de um jeito original, já que o protagonista chega a perguntar aos coadjuvantes se eles estão cientes da platéia que os assiste. Ao perceber que ninguém possui essa visão, o protagonista reafirma: sua mente é definitivamente evoluída e diferenciada. Ao mesmo tempo, os outros personagens chegam a outro veredito: Boris Yellnikoff é, sem dúvidas, um louco. Sensacional!

Apesar de interpretar o já conhecido alter ego de Woody Allen, o comediante Larry David jamais soa repetitivo. Acostumado com papéis cômicos, o ator imprime um forte carisma à sua personagem, constituindo o grande trunfo do filme. É verdade que o seu papel tem uma essência parecida com antigos protagonistas da filmografia de Allen, porém a composição de Larry David se distancia levemente das demais. A principal diferença reside na forma como Boris expõe as suas idéias, sempre de um jeito agressivamente sarcástico. De fato, a grande diferença é essa: David é mais enérgico, mais agressivo do que Woody Allen fora em filmes como "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa".

Enfim, depois de um período fazendo filmes com abordagens diferentes, como "Vicky Cristina Barcelona" e "Match Point", Allen volta a filmar uma história com o viés cômico que o consagrou. Mais uma vez, constatamos o cuidado na construção do roteiro, que se revela bastante atual, o que é curioso, visto que foi escrito em 1977. O motivo para esse enorme atraso na realização do filme é interessante: o ator que iria fazer o papel principal faleceu antes de iniciar as filmagens e em função de sua morte, o roteiro foi engavetado. Somente agora, após 30 anos, o cineasta resolveu tirar o filme do papel. Provavelmente, após ter tido a certeza de que encontrara em Larry David a pessoa perfeita para encabeçar o seu antigo projeto.

Nota: 8

quarta-feira, 21 de abril de 2010

(500) Dias com Ela

''So for once in my life
Let me get what I want
Lord knows, it would be the first time''

O gênero comédia romântica está desacreditado há algum tempo, isso é fato. Produtos de Hollywood que seguem a velha fórmula, já desgastada: homem-conhece-muher, rola um clima, acontece um contratempo e no final, uma lição sobre o amor e um final feliz. ‘’(500) Dias Com Ela’’ tenta inovar o gênero, com um estilo mais indie, talvez até um clima de cinema independente. Infelizmente desanda para o clichê à medida que se dá seu desenvolvimento, embora ainda haja bons momentos e uma atuação sinérgica interessante do casal protagonista.

Como personagem principal temos Tom Hansen ( Joseph Gordon-Levitt), um jovem frustrado, formado em arquitetura mas trabalha numa empresa que confecciona cartões comemorativos. Um dia, chega à empresa Summer Finn (Zooey Deschanel), contratada como secretária de seu chefe. Tom se apaixona por Summer e, à medida que a conhece, se envolve mais ainda. Summer, por sua vez, só quer se divertir, não acredita em amor ou alma gêmea, e aí começam os problemas.

A influência de Woody Allen é clara, já que o filme trata de um casal estranho em uma ordem não linear, misturando as recordações como se fosse um bordado (‘’Noivo Neurótico, Noiva Nervosa’’). Pode-se até citar o trançado feito na linha temporal de Kaufman e Gondry no ‘’Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças’’, feito de uma forma mais elaborada e experiente. No filme em questão, a contagem dos 500 dias se torna totalmente inútil, já que as atitudes das personagens já denotam a passagem de tempo.

Nota-se uma forte indecisão sobre o rumo que o diretor quer tomar com o filme: a primeira impressão é a de um filme que tenta fugir ao mainstream, criando uma atmosfera indie; em algumas horas se assemelha aos outros filmes de comédia romântica; e por fim tenta se sustentar com algumas piadas desnecessárias e que não se encaixam no contexto criado. A sequência musical é agradável, mas se estende demais, tornando-a exaustiva.

O casal principal goza de uma forte sinergia e a atuação dos dois atores é cativante. Joseph Gordon-Levitt consegue passar toma a paixão da sua personagem, um romântico que desesperançoso e solitário que acredita até demais no amor. Zooey Deschanel por sua vez interpreta uma personagem distante, talvez por não querer nada sério com a personagem ou por não corresponder ao sentimento de Tom.

O filme tem bons momentos, como a sequencia em que a tela se divide em ‘’expectativa’’ e ‘’realidade, extremamente criativa. A trilha sonora é boa, contando com ‘’The Smiths’’ e ‘’Simon & Garfunkel’’ e dá o tom dessa relação sem rótulos vivida durante quinhentos dias pelos dois jovens. O final é interessante, diferente dos desfechos usuais dos filmes do gênero e define bem o que acontece na maioria dos relacionamentos. Cuidado, o efeito catártico pode ser forte!

Nota: 6,5

sábado, 17 de abril de 2010

Sinédoque, Nova Iorque

‘’ I'm just a little person
one person in a sea
of many little people
who are not aware of me’’




Uma das personalidades mais inteligentes e criativas do cinema atualmente, Charlie Kaufman é um dos raros casos em que o roteirista se torna mais famoso do que o próprio diretor. Seus poucos trabalhos escritos são dotados de grande originalidade e um breve flerte com a escola surrealista, linha de tempo imprevisível, personagens bizarros aliados a temas como o amor e a solidão.

A estréia de Kaufman na direção do filme lhe dá maior liberdade para suas loucuras. Em filmes passados, como ‘’Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembrança’’, ‘’Quero Ser John Malkovich’’ e ‘’Adaptação’’ as idéias do agora diretor parecem impedidas de fluir livremente em alguns momentos, e que agora encontram espaço para serem desenvolvidas. Não que os Michel Gondry ou Spike Jonze tenham feito trabalhos ruins, mas talvez Kaufman precisasse fazer um longa sob seu próprio comando e assim ter liberdade total sobre seu roteiro.

Caden Cottard é um teatrólogo casado com Adele, com a qual possui uma pequena filha, Olive, de 4 anos Caden não possui uma boa relação com sua esposa e ainda está desacreditado da vida. Não se levanta da cama cedo, a sua primeira leitura no jornal são os obituários.Sua saúde está ruim e, como se mostra hipocondríaco, consulta diversos médicos ocasionalmente.

Até aí o filme segue ligado ao plano real, com Caden freqüentando os médicos que não dão a mínima para a ansiedade de seu paciente. Temos como um primeiro uma quebra de conexão com o real quando a personagem Hazel visita e passa a morar na casa que pega fogo, mas ninguém parece se importar com esse fato. O fogo faz uma alusão aos lares que passam por fases de instabilidade, que estão sempre no limiar do incêndio pelos seus distúrbios, tanto sociais como psicológicos.

Kaufman faz mais um estudo interessante sobre a percepção e a mente humana neste ‘’Sinédoque: Nova York’’. Na cena em que Caden visita Hazel, temos a confirmação de que estamos analisando toda a obra através dos olhos de Caden, somos parte ativa de sua mente.e de seu aparelho perceptivo, ou seja, estamos em contato direto com todas as neuroses do psicológico da personagem.

À medida que o filme passa, Caden envelhece sem se dar conta da passagem do tempo, pois seus olhos estão voltados apenas para si mesmo. A personagem se deteriora e se sente como um morto-vivo, pois o tempo passa e ele sente a sensação de não ter aproveitado nada. Phillipe Seymour Hoffman encarna o papel de forma brilhante, passando toda a melancolia e as neuroses da personagem, pois como o filme basicamente ocorre no plano psicológico, uma atuação grandiosa e sensível era necessária.

Créditos especiais também para Hazel (Samanta Morton), Tom Noonan (Sammy, alter-ego de Caden), Madeleine (Hope Davis) e a todos do elenco. Kaufman contou com um forte time para desenvolver esse longa, e todos cumprem perfeitamente seus respectivos papeis, encaixando-se de forma harmoniosa nessa ótima obra de Kaufman, e na espiral da decadência do homem criada por Caden no filme.

Nota: 9

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Nove Rainhas


A bem da verdade, é raro assistirmos a filmes latino-americanos, cuja temática se aproxime do gênero ação. Além da escassez de produções do tipo, os raros exemplares são vistos com certa desconfiança pela maior parte do público, que muitas vezes não consegue imaginar um filme de ação sem o aparato da tecnologia hollywoodiana. No entanto, vez por outra, surgem filmes que desmistificam qualquer tipo de superioridade americana no gênero. Um exemplo que ilustra bem essa situação é o filme argentino "Nove Rainhas".

A trama começa com um encontro casual entre dois vigaristas, um novato e um profissional, que marcará o início de uma parceria, cuja ocupação será realizar pequenos golpes pelas ruas argentinas. Tudo vai bem, até que eles recebem uma proposta, que poderá mudar suas vidas. Trata-se de um golpe milionário em um empresário filatelista. Com isso, os dois iniciarão uma viagem pelo submundo do crime em busca do dinheiro, que ficará cada vez mais distante por um simples motivo: um não pode confiar no outro.

O primeiro elemento que chama a atenção na história é a naturalidade como é mostrada o início da relação entre os dois bandidos. Tal processo se dá através da admiração e do prazer que um sente ao observar os golpes executados pelo outro. Por meio desses golpes, o espectador percebe certas características de cada um, como por exemplo, uma certa tendência do mais velho de praticar os seus delitos em meio à confusões e a preferência do outro por ambientes mais calmos. Outro fator que chama muito a atenção é a engenhosidade dos crimes vistos, que apesar de serem aparentemente simples, exigem um certo comportamento e um cinismo que só mesmo um golpista poderia apresentar.

Quando o enredo ganha novas proporções em virtude do golpe oferecido aos dois, o foco do filme passa a ser o planejamento do crime e as sucessivas tentativas, realizadas sobretudo pelo vigarista experiente, de tirar vantagem das situações. Pode-se dizer que aí é o momento em que o filme mais se destaca, uma vez que o clima de tensão vai ganhando contornos cada vez maiores, à medida que acompanhamos o desenrolar do golpe. Dessa forma, o espectador é totalmente envolvido pela trama, que culminará num final de certa forma trágico e inesperado.

Após rasgar elogios ao ator Ricardo Darín, pela sua performance em "O Filho da Noiva", me sinto na obrigação de destacar novamente o talento do intérprete. Se no filme de Campanella, ele encarnava uma pessoa comum, cheia de problemas familiares e amorosos, aqui ele incorpora com uma naturalidade espetacular a astúcia do experiente golpista Marcos. Como seu parceiro mais novo, o ator Gastón Pauls constrói um personagem complexo, cuja história é vital para a dramaticidade do filme.

Para concluir, vale dizer que essa obra é um indício de que é possível fazer filmes de ação fora da indústria americana. Basta ter talento, coisa que o diretor e roteirista Fabián Bielinsky provou ter de sobra. Como tem acontecido ultimamente com alguns sucessos não americanos, "Nove Rainhas" teve uma refilmagem estadunidense, de nome "171" ("Criminal", no original). Apenas uma curiosidade, já que a história aqui resenhada não precisa de remake. Afinal, como diz o dito popular: "Em time que tá ganhando, não se mexe." .

Nota: 9

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa

 

‘’Sabe quando você sempre tenta fazer tudo sair perfeito na arte, porque na vida real é difícil?’’

As obras de Woody Allen são sinônimas de um humor lotado de ironias e com um fundamento intelectual amplo, e este ‘‘Annie Hall’’ não foge essa marca registrada do diretor. Logo na primeira cena temos um atormentado Alvy Singer desabafando com os espectadores, como se estivesse em um divã, no consultório de um analista. Em tal cena, já podemos ter uma noção de como será a narrativa do filme, a típica interação com o público, única desse gênio do cinema.

Alvy Singer (Woody Allen) é uma personagem problemática, cheia de neuroses, como o título em português deixa claro. Frequenta um analista há 15 anos, possui uma visão pessimista da vida, além de uma fixação pela morte que parece não permitir que a aproveite por completo. Divorciado, conhece Annie Hall (Diane Keaton), com quem se envolve amorosamente e passa a viver um grande amor.

Woody Allen nos apresenta uma narrativa não linear, intercalando cenas do passado e presente tanto do casal como da infância e recordações de sua personagem, tecendo uma dinâmica e divertida comédia romântica. As idas e vindas de Alvy e Annie, recordações da infância e de momentos dos dois juntos são intercaladas de uma forma deliciosa, tratando com humor e ironia (como só Allen sabe fazer) um tema triste, mas corriqueiro: o amor, o começo, desenvolvimento e fim de um relacionamento.

Temos mais uma vez uma excelente atuação de Woody Allen e seu jeito único de fazer humor. Suas expressões e gestos praticamente não mudam durante os filmes, o que os torna auto-biográficos e cria uma certa intimidade a distância entre o diretor e o espectador. Sentimos como se soubéssemos muito sobre a forma de pensar, suas experiências amorosas e intimidades de Allen, o que facilita demais uma certa catarse nas obras do diretor. Diane Keaton está brilhante em seu papel , interpretando com paixão uma mulher única mas humana, com suas ansiedades e problemas vividas com paixão pela atriz.


Temos sequências primorosas em que Woody Allen argumenta com uma personagem pedante numa fila de cinema, desabafa com os telespectadores sua opinião, e não satisfeito com a resposta do homem criticado (afinal, ele era um especialista no que estava falando, Marshall Mcluhan, um teórico comunicador de massa) puxa o intelectual de trás de um cartaz de cinema para sustentar seu argumento (!). No final, indaga ‘’Se a vida fosse assim’’, simplesmente genial. Ou ainda pode-se citar a cena em que Alvy, Annie e seu amigo assistem a uma comemoração vivenciada por Allen em sua infância, e seu amigo começa a dialogar com a avó da personagem do diretor.

A interação de Allen com o público não para por aí, pois em diversos momentos somos colocados no papel de ‘’um ombro amigo’’ de nosso querido personagem neurótico, afinal, ele precisa desabafar com alguém. E, não obstante, ainda pergunta a opinião de pessoas alheias na rua, que o respondem de forma sincera e bem humorada, às vezes até sabiamente, como a senhora que lhe diz ‘’O amor é assim, se esvai com o tempo’’, ou o casal que diz ‘’Nos damos bem pois ele é vazio e eu não tenho nada de interessante pra falar’’.

Allen nos leva a refletir sobre os relacionamentos marcantes que tivemos em nossas vidas, uma espécie de introspecção em nossos próprios pensamentos. As lembranças de relacionamentos passados são sempre citadas no filme, por ambas as partes do filme e, por fim, Annie Hall se torna também uma lembrança marcante em sua vida. Temos então, uma obra sobre as lembranças do que fica de bom em um relacionamento passado, aqueles momentos únicos vividos com uma pessoa querida. Torcemos para que Alvy e Annie se entendam e vivam juntos no final, já que sempre desejamos que, na vida, possamos de controle total sobre as circunstâncias e as conseqüências de nossos atos. Afinal, continuamos tentando, pois por mais que os relacionamentos sejam irracionais e loucos, nós precisamos dos ovos, não?

Nota:10

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Filho da Noiva


Fui apresentado ao cinema de Campanella recentemente com o filme "O Segredo dos Seus Olhos". De cara, me apaixonei pelo trabalho do diretor, que parece se especializar em contar histórias profundamente sensíveis e triviais. Essa, talvez, seja a sua maior característica: tocar em temas triviais, sem soar clichê ou repetitivo.

O Filho da Noiva conta a história de Rafael Belvedere, um homem de meia idade, dono de um restaurante, que vive sob constante tensão, tendo que se desdobrar para administrar os negócios, dar atenção à sua filha e visitar periodicamente, acompanhado de seu pai, a sua mãe (Norma), que sofre do Mal de Alzheimer e por isso vive numa casa de repouso.

Pode-se dizer que a trama principal do filme tenha início quando Nino Belvedere, pai de Rafael, revela ao filho, seu antigo sonho de se casar na Igreja com sua mulher, algo que não tinha feito até então por falta de convicção no matrimônio. Ao ouvir a idéia do pai, Rafael se posiciona de forma contrária ao casamento, levando em consideração a idade de seus progenitores e, obviamente, a doença de sua mãe. No entanto, após sofrer um ataque cardíaco, decorrente do estresse, o protagonista vai reavaliar o modo como levava a sua vida e a repensar o desejo do pai.

Campanella conta a história sem rodeios na direção, apesar de ser possível constatar o seu talento em alguns planos como em um movimento de câmera, que acompanha o rosto e as expressões de Nino Belvedere, durante um monólogo em que este discorre saudosamente da sua vida com a amada. A escolha pela não utilização de grandes truques cinematográficas, se revela apropriada, visto que foca às atenções ao trabalho dos atores. E que trabalho !

Um elenco, no mínimo, fabuloso. Ricardo Darín, que interpreta o o protagonista Rafael, dá uma verdadeira aula de atuação. Com extrema competência, o ator é eficaz em todos os momentos do personagem, sejam eles cômicos ou dramáticos. Impossível não se comover durante a cena em que seu personagem lê um poema escrito pela filha. Outro destaque no filme é Hector Alterio, o apaixonado e dedicado Nino, que, durante a já citada sequência do monólogo, consegue envolver completamente o espectador, que passa a admirar o verdadeiro amor que ele sente pela sua mulher, mesmo após 44 anos juntos. Além desses, temos outras ótimas composições, que só não falarei sobre, porque o parágrafo soaria cansativo.

Concluindo, "O Filho da Noiva" conta uma história, que dificilmente se encaixaria em um gênero específico, uma vez que possui boas doses de humor, drama, romance, suspense...assim como a vida ! A abordagem de Campanella é tão humana, que por ora, é fácil esquecer que tudo aquilo se passa numa tela, devido à sua forte verossimilhança com o real. Enfim, a todos aqueles que procuram, sobretudo, um excelente filme, recomento fortemente "O Filho da Noiva".

Nota: 10

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