sexta-feira, 16 de abril de 2010

Nove Rainhas


A bem da verdade, é raro assistirmos a filmes latino-americanos, cuja temática se aproxime do gênero ação. Além da escassez de produções do tipo, os raros exemplares são vistos com certa desconfiança pela maior parte do público, que muitas vezes não consegue imaginar um filme de ação sem o aparato da tecnologia hollywoodiana. No entanto, vez por outra, surgem filmes que desmistificam qualquer tipo de superioridade americana no gênero. Um exemplo que ilustra bem essa situação é o filme argentino "Nove Rainhas".

A trama começa com um encontro casual entre dois vigaristas, um novato e um profissional, que marcará o início de uma parceria, cuja ocupação será realizar pequenos golpes pelas ruas argentinas. Tudo vai bem, até que eles recebem uma proposta, que poderá mudar suas vidas. Trata-se de um golpe milionário em um empresário filatelista. Com isso, os dois iniciarão uma viagem pelo submundo do crime em busca do dinheiro, que ficará cada vez mais distante por um simples motivo: um não pode confiar no outro.

O primeiro elemento que chama a atenção na história é a naturalidade como é mostrada o início da relação entre os dois bandidos. Tal processo se dá através da admiração e do prazer que um sente ao observar os golpes executados pelo outro. Por meio desses golpes, o espectador percebe certas características de cada um, como por exemplo, uma certa tendência do mais velho de praticar os seus delitos em meio à confusões e a preferência do outro por ambientes mais calmos. Outro fator que chama muito a atenção é a engenhosidade dos crimes vistos, que apesar de serem aparentemente simples, exigem um certo comportamento e um cinismo que só mesmo um golpista poderia apresentar.

Quando o enredo ganha novas proporções em virtude do golpe oferecido aos dois, o foco do filme passa a ser o planejamento do crime e as sucessivas tentativas, realizadas sobretudo pelo vigarista experiente, de tirar vantagem das situações. Pode-se dizer que aí é o momento em que o filme mais se destaca, uma vez que o clima de tensão vai ganhando contornos cada vez maiores, à medida que acompanhamos o desenrolar do golpe. Dessa forma, o espectador é totalmente envolvido pela trama, que culminará num final de certa forma trágico e inesperado.

Após rasgar elogios ao ator Ricardo Darín, pela sua performance em "O Filho da Noiva", me sinto na obrigação de destacar novamente o talento do intérprete. Se no filme de Campanella, ele encarnava uma pessoa comum, cheia de problemas familiares e amorosos, aqui ele incorpora com uma naturalidade espetacular a astúcia do experiente golpista Marcos. Como seu parceiro mais novo, o ator Gastón Pauls constrói um personagem complexo, cuja história é vital para a dramaticidade do filme.

Para concluir, vale dizer que essa obra é um indício de que é possível fazer filmes de ação fora da indústria americana. Basta ter talento, coisa que o diretor e roteirista Fabián Bielinsky provou ter de sobra. Como tem acontecido ultimamente com alguns sucessos não americanos, "Nove Rainhas" teve uma refilmagem estadunidense, de nome "171" ("Criminal", no original). Apenas uma curiosidade, já que a história aqui resenhada não precisa de remake. Afinal, como diz o dito popular: "Em time que tá ganhando, não se mexe." .

Nota: 9

Um comentário:

  1. Um belo filme, preciso rever e estabelecer um novo contato!

    Muito bom vocês trazerem ótimos filmes por aqui!

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