sábado, 17 de abril de 2010

Sinédoque, Nova Iorque

‘’ I'm just a little person
one person in a sea
of many little people
who are not aware of me’’




Uma das personalidades mais inteligentes e criativas do cinema atualmente, Charlie Kaufman é um dos raros casos em que o roteirista se torna mais famoso do que o próprio diretor. Seus poucos trabalhos escritos são dotados de grande originalidade e um breve flerte com a escola surrealista, linha de tempo imprevisível, personagens bizarros aliados a temas como o amor e a solidão.

A estréia de Kaufman na direção do filme lhe dá maior liberdade para suas loucuras. Em filmes passados, como ‘’Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembrança’’, ‘’Quero Ser John Malkovich’’ e ‘’Adaptação’’ as idéias do agora diretor parecem impedidas de fluir livremente em alguns momentos, e que agora encontram espaço para serem desenvolvidas. Não que os Michel Gondry ou Spike Jonze tenham feito trabalhos ruins, mas talvez Kaufman precisasse fazer um longa sob seu próprio comando e assim ter liberdade total sobre seu roteiro.

Caden Cottard é um teatrólogo casado com Adele, com a qual possui uma pequena filha, Olive, de 4 anos Caden não possui uma boa relação com sua esposa e ainda está desacreditado da vida. Não se levanta da cama cedo, a sua primeira leitura no jornal são os obituários.Sua saúde está ruim e, como se mostra hipocondríaco, consulta diversos médicos ocasionalmente.

Até aí o filme segue ligado ao plano real, com Caden freqüentando os médicos que não dão a mínima para a ansiedade de seu paciente. Temos como um primeiro uma quebra de conexão com o real quando a personagem Hazel visita e passa a morar na casa que pega fogo, mas ninguém parece se importar com esse fato. O fogo faz uma alusão aos lares que passam por fases de instabilidade, que estão sempre no limiar do incêndio pelos seus distúrbios, tanto sociais como psicológicos.

Kaufman faz mais um estudo interessante sobre a percepção e a mente humana neste ‘’Sinédoque: Nova York’’. Na cena em que Caden visita Hazel, temos a confirmação de que estamos analisando toda a obra através dos olhos de Caden, somos parte ativa de sua mente.e de seu aparelho perceptivo, ou seja, estamos em contato direto com todas as neuroses do psicológico da personagem.

À medida que o filme passa, Caden envelhece sem se dar conta da passagem do tempo, pois seus olhos estão voltados apenas para si mesmo. A personagem se deteriora e se sente como um morto-vivo, pois o tempo passa e ele sente a sensação de não ter aproveitado nada. Phillipe Seymour Hoffman encarna o papel de forma brilhante, passando toda a melancolia e as neuroses da personagem, pois como o filme basicamente ocorre no plano psicológico, uma atuação grandiosa e sensível era necessária.

Créditos especiais também para Hazel (Samanta Morton), Tom Noonan (Sammy, alter-ego de Caden), Madeleine (Hope Davis) e a todos do elenco. Kaufman contou com um forte time para desenvolver esse longa, e todos cumprem perfeitamente seus respectivos papeis, encaixando-se de forma harmoniosa nessa ótima obra de Kaufman, e na espiral da decadência do homem criada por Caden no filme.

Nota: 9

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